500 ANOS DA PRESENÇA PROTESTANTE NO MUNDO
– 31 de outubro de 1517 a 31 de outubro de 2017 –
por Jorge Henrique Barro
Hoje, 500 anos depois, é fácil nos apropriarmos das cinco afirmações centrais da Reforma.
Mas de modo algum podemos ignorar que muitas pessoas enfrentaram terríveis perseguições e até a morte para estabelecer esses postulados para a chamada Igreja Protestante. Há muitos cristãos que nunca ouviram falar destes cinco Sola ou outros que talvez ainda não entenderam. Vejamos cada um dos cinco fundamentos da Reforma:
1. Sola Scriptura – Somente pelas Escrituras
Deve-se começar com o sola Scriptura – somente a Escritura. É o ensinamento e a ênfase de que a Bíblia é a única Palavra inspirada e autoritária de Deus. É a única fonte para a doutrina cristã, acessível a todos e autointerpretada. A Bíblia não exige interpretação fora de si mesma. Esse entendimento se opõe diretamente ao ensino das tradições ortodoxas orientais, coptas, anglo-católicas e romanas, que ensinam que a Bíblia só pode ser verdadeiramente interpretada pela Tradição Apostólica, definida como a tradição Católica Romana, juntamente com o Papa.
É claro que nem toda tradição é má, errada ou antibíblica. O apóstolo Paulo falou da importância de tradições:
E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais (Gl 1:14).
Em 2 Tessalonicenses 2:15 Paulo disse:
Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.
Porém, existe sim o risco de se impor a tradição acima da Palavra de Deus. O próprio Jesus advertiu os Fariseus de tal problema:
E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição (Mt 15:6).
E era exatamente este o problema que os Reformadores estavam denunciando: a tradição acima da Palavra da Deus. Consequente, colocando a Palavra de Deus em segundo plano.
Sola Scriptura significa que a Bíblia sozinha é o único instrumento pelo qual Deus se revela ao ser humano para a salvação, por meio da fé em Cristo (Solus Christus).
A Bíblia é a autoridade máxima. É a regra infalível para todos os assuntos de fé e prática. Deve ser vista e tratada para além das tradições orais da igreja e dos decretos humanos, particularmente o Papa. A Bíblia é único padrão de verdade.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2 Timóteo 3:16-17).
Tudo o que precisamos para ser completamente equipados para todo bom trabalho (“boa obra”) é encontrado nas Sagradas Escrituras. Toda a instrução que precisamos para viver uma vida santa agradável a Deus é encontrada neste livro. Tudo o que precisamos para conhecer a vontade de Deus para nossas vidas é encontrado nas Escrituras. Este livro nos ajuda e orienta a fazer tudo o que Deus nos pede nesta vida. Como diz um conhecido ditado: “Ou este livro te afasta do pecado ou o pecado te afasta deste livro”.
A salvação é somente pela graça, através da fé somente em Cristo, e tudo isso porque está revelado somente na Palavra e tudo somente para a glória de Deus. Não existe salvação fora da Palavra de Deus.
Deus nos deu os seus mandamentos. Eles são as leis de Deus que devem ser seguidas. Quando se trata de Deus, deve haver algo que repousa fora de mim, que é a autoridade final. Essa autoridade final em todos os assuntos é encontrada somente nas Escrituras.
Verdade e erro estão reveladas na Palavra de Deus.
Ignorar as Escrituras é cair no erro, conforme disse Jesus aos Saduceus: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22:29).
Quando se trata de qualquer questão de teologia, doutrina ou visão de mundo devemos ser assim como foram os Bereanos, a quem Paulo elogiou:
Ora, estes de Bereia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim (At 17:11)
Sola Scriptura!
Jorge Henrique Barro – É doutor em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (Pasadena. Califórnia – USA). Fundador e professor da Faculdade Teológica Sul Americana de Londrina e avaliador do MEC para Teologia.
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