500 anos da Reforma Protestante – parte 6

500 ANOS DA PRESENÇA PROTESTANTE NO MUNDO
– 31 de outubro de 1517 a 31 de outubro de 2017 –

por Jorge Henrique Barro

Hoje, 500 anos depois, é fácil nos apropriarmos das cinco afirmações centrais da Reforma.

Mas de modo algum podemos ignorar que muitas pessoas enfrentaram terríveis perseguições e até a morte para estabelecer esses postulados para a chamada Igreja Protestante. Há muitos cristãos que nunca ouviram falar destes cinco Sola ou outros que talvez ainda não entenderam.
Vejamos cada um dos cinco fundamentos da Reforma:

3. Sola Gratia – Somente a Graça

A salvação acontece somente pela graça de Deus, sem méritos humanos…
“para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2:7-9).

Sola Gratia é o ensino que a salvação vem de Deus por meio de sua graça somente ou “favor imerecido” – não como algo merecido pelo pecador. É um presente (dom) de Deus que ninguém tem o direito de ganhar ou receber.

Uma santa advertência: o fato de não termos méritos próprios na salvação não significa que devemos ser negligentes com este dom (presente) imerecido de Deus. É nossa responsabilidade cuidar dessa graça e Paulo chama isso de “desenvolvimento”. Não desenvolver para ser salvo; ao contrário, uma vez salvo, desenvolver no sentido de crescer, tornar maduro e aperfeiçoar.
… desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade (Fp 2:12-13).

E uma das maneiras desse desenvolvimento da salvação são as boas obras. O livro de Tiago é um modelo para os salvos que demonstra que as boas obras são produto da salvação e tais obras não salvam. Mas por outro, alguém afirmar que é salvo pela fé e graça de Deus, mas não realiza boas obras, está totalmente contrário a vontade de Deus e os ensinamentos bíblicos:
Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mt 5:16).

E Tiago lançou este desafio:
Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé (Tg 2:14-18).

Estaria Tiago contrariando as afirmações de Paulo em Efésios 2:8-9 ao dizer: “Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Tiago está desafiando seus leitores e fazendo-os pensar sobre como eles demostram que são pessoas de fé: “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé”. Tiago mostra que as obras não são requerimentos para a salvação, mas requerimentos da salvação. Isso faz uma diferença radical. A questão central de Tiago é: como alguém pode dizer que é salvo e não está nem aí com seu próximo, deixando-o passar frio, com fome, negligenciando as necessidades de seu corpo? É isso que significa ser um cristão? É essa a conduta que um cristão deve ter? Tal pessoa que assim age, de acordo com Tiago, não é um cristão, mas um morto em vida – uma fé vazia de significado. Por isso, Tiago fala que a obras mostram a fé que temos e não que obras salvam (“com as obras, te mostrarei a minha fé”).

Nunca merecemos nada de Deus para sermos salvos – é Sola Gratia! Mas lembre-se a graça de Deus que nos salva nos salva com propósitos: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10).

E agora passamos a ver a Jesus Cristo! É Ele que dá sentido as Escrituras, autor da salvação, em quem depositamos fé sendo o dom de Deus a humanidade.

Sola Gratia!

Jorge Henrique Barro – É doutor em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (Pasadena. Califórnia – USA). Fundador e professor da Faculdade Teológica Sul Americana de Londrina e avaliador do MEC para Teologia.

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