A Reforma Protestante no século XXI

Martinho Lutero

A Reforma Protestante desempenhou importante papel na história da Europa e de toda a humanidade. Muita coisa boa e muita coisa não tão boa assim derivam desse evento que, no início do século XVI, fez parte de uma série de transformações do modo de vida da Europa e dos países e povos que a Europa colonizou e dominou durante o período do imperialismo europeu.

Normalmente, quando se comenta sobre a Reforma, em seu dia de aniversário, o foco recai sobre a vida das Igrejas. Hoje quero destacar outro aspecto: o papel da Reforma no pensamento acadêmico e político. Invoco como principal testemunha um insuspeito filósofo no tocante ao nosso tema: Michel Foucault.

 Em um artigo intitulado “o Que é a Crítica” Foucault estudou o nascimento da atitude crítica nos séculos XV-XVI e constatou que, entre outros pilares, a crítica se assentava na nova atitude diante da Bíblia criada com a Reforma, mediante a qual a Bíblia podia ser lida por todas as pessoas e devia ser lida por todos e não só pela instituição eclesiástica:

“em uma época na qual o governo dos homens era essencialmente uma arte espiritual, ou uma prática essencialmente religiosa ligada à autoridade de uma Igreja, ao magistério de uma Escritura, não querer ser governado de tal modo seria essencialmente buscar nas Escrituras uma relação outra, que a ligada ao funcionamento do ensinamento de Deus … uma certa maneira de refutar, recusar, limitar (digam como vocês quiserem) o magistério eclesiástico, seria um retorno às Escrituras, se­ria a questão do que é autêntico nas Escrituras, do que está efetivamente escrito nas Es­crituras, a questão de que espécie de verdade dizem as Escrituras, como ter acesso a esta verdade da Escritura na Escritura e a despeito, talvez, do escrito, e até chegarmos à questão finalmente muito simples: as Escrituras são verdadeiras? … Diremos que a críti­ca é historicamente bíblica.” ( FOUCAULT, M. “O que é a crítica? (Crítica e Aufklärung)”, in BIROLI, F. & ALVAREZ, M. C. (orgs.) Michel Foucault: Histórias e destinos de um pensamento, Cadernos da F.F.C. Marília: 2000, vol. 9, no. 1, p. 171.)

O conceito de crítica usado por Foucault é o que está grifado na citação: “a arte de não ser governado de tal modo”. Nós, brasileiros, cidadãs e cidadãos da terra brasilis não queremos ser governados do modo como temos sido governados por uma classe política que defende os seus próprios interesses e os interesses de um Estado subjugado pelo poder econômico. Não queremos que as brigas partidárias, as picuinhas entre pessoas eleitas para governar tirem o nosso emprego, o nosso dinheiro, a nossa paz, o nosso direito de viver uma vida plena.

Nós queremos ser governados de outro modo: queremos ser ouvidos, queremos que as prioridades do país sejam as necessidades reais do povo, queremos que educação, saúde, moradia, transporte, salários justos, distribuição equitativa de lucros, etc. atendam realmente à formação de pessoas com mentalidade cidadã, capazes de deliberar, debater e governar como cidadãs.

E especialmente queremos o controle dos gastos do governo, em seus três poderes, porque nosso dinheiro ganho com suor não pode ser usado para pagar os gastos de uma máquina ultrapassada, politiqueira, eleitoreira e privatizada pelos seus gestores. Em uma só palavra, queremos ser governados com JUSTIÇA!

 31 DE OUTUBRO DE 2015 – Celebração da Reforma: mobilização para um novo modo de sermos governados!

Julio Zabatieiro – Professor da FTSA