Cuidado espiritual de atletas de alto rendimento é exigência do Comitê Olímpico Internacional
Por Andressa Rodrigues
Receber o maior evento esportivo demanda uma série de superprovidências, que vão desde construções dos centros de competição, logística, mobilidade e segurança, até cuidados nos detalhes como a capacitação de voluntários por setor e personalização de uniformes e ambientes.
Com tantas preocupações, o COI – Comitê Olímpico Internacional – entende que o atendimento espiritual de atletas não pode ficar de fora deste pacote e disponibiliza a cada edição um centro inter-religioso em que as cinco maiores religiões mundiais são representadas.
Na Rio 2016, este espaço dentro da Vila Olímpica, na Barra da Tijuca, será composto por Judeus, Muçulmanos, Hindus, Budistas e Cristãos, sendo o último subdividido entre Católicos e Protestantes. Cada segmento terá quatro capelães para atender as necessidades espirituais dos cerca de 30mil moradores da vila, entre atletas olímpicos e paraolímpicos, além das comissões técnicas.

Capelão protestante convidado pela Rio 2016, o brasileiro Marcus Baridó, batista, professor de Coaching Esportivo na UFRJ, ex-atleta de Basquete e membro da equipe The Road to Rio de Athletes in Action, um ministério da CRU – no Brasil, Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo –, acredita que o maior desafio é atender uma verdadeira cidade com apenas uma única igreja, de poucos líderes e limitada ‘as suas paredes, porque a atuação se restringe ‘a capela cristã, mas, sem dúvida, a maior oportunidade de apresentar o Reino de Deus ‘ a diversas nações simultaneamente: “Nós estaremos lá anunciando o Rei da paz, que excede todo entendimento. Que garante vida plena e satisfação verdadeira para nossas almas e nos torna mais que vencedores. Como diz o texto bíblico em 1 Coríntios 9:25, todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece, mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre”.
O que é Capelania?*
Segundo a Faculdade Teológica Sul Americana, o ministério de Capelania é o cuidado, a evangelização, o aconselhamento e o discipulado fora dos muros da igreja, nas várias instâncias e instituições que compõem a sociedade. Eu penso que se difere do pastoreio, por demandar situações, locais e conhecimentos específicos que a igreja naturalmente não consegue suprir. Por isso existe a capelania escolar, portuária, hospitalar, esportiva, entre outras. Há uma demanda de dedicação muito grande. O pastor de uma igreja possivelmente não conseguiria atender a capelania hospitalar, por exemplo, que exige que quem a faz fique lá dentro muito tempo, se envolva com aquelas questões e que precisa de um ministro específico para isto.
Capelania Esportiva*
As peculiaridades do serviço com atletas são da própria natureza da vida esportiva. O atleta é alguém que vive para vencer. Paulo fala sobre isso. Ele diz que o atleta em tudo se domina para alcançar uma coroa corruptível. Isso quer dizer que ele abre mão de tudo: vida social, prazeres alimentares, abre mão da ausência de dor física, ele é alguém que se acostuma a sentir dor. Todo esse cenário acaba criando uma demanda psicológica e espiritual grande, porque o atleta está sempre no limite.
O capelão tem que ser alguém disponível para ajudar nestas demandas. A maioria dos atletas não tem condições de frequentar cultos semanais, por viagens, competições. Ele também é alguém que não pode comer em cantina na igreja, por exemplo, ou quando o grupo de jovens sai para comer em algum lugar, porque ele tem rotina diferente de alimentação e sono. Isso gera uma ausência de grupos cristãos e sociais em que ele compartilhe a vida. Em geral, a equipe técnica acaba se tornando sua família e amigos, porque são com quem se relaciona o tempo todo e muitas vezes não tem companheiros cristãos. Nesse momento, a presença do capelão se faz essencial. É alguém para partilhar vida e valores cristãos, principalmente de que a verdadeira vitória está em viver Cristo.
No caso de atleta olímpico, o macro ciclo de treinamento dura quatro anos, portanto são quatro anos permeados de expectativa e euforia, porque para se classificar para uma Olimpíada ele precisou viver ciclos vitoriosos. Isso culmina na Olimpíada e gera muito mais decepção que euforia, pois apenas um vai ser o medalhista de ouro. E mesmo o campeão vive um momento de euforia breve, porque ele já emenda num outro ciclo olímpico da expectativa de se manter campeão, e assim, manter patrocinadores, apoiadores e equipe.
O capelão precisa ter a sensibilidade e habilidade de lidar com todos esses momentos que são todo muito intensos. Durante esse processo, ele ajuda o atleta a ajustar sua visão e o seu coração, lidando da forma correta com as expectativas. É fato que, na vitória, ele é cercado por seus patrocinadores, familiares, fãs, enquanto que, na derrota, ele se sente absolutamente só. Como o capelão tem o único interesse na pessoa, não no resultado ou na performance, é nessa hora que seu trabalho assume a característica de ser indispensável. Em algumas ocasiões, o capelão pode ser o único suporte.
A disponibilidade para o atleta de maneira desinteressada é o maior atrativo para que pessoas se aproximem de Deus através deste ministério. Os atletas de alto rendimento recebem muito assédio pela fama, pelo carisma, pelo aspecto financeiro, pelo potencial de uso de sua imagem, então, o capelão esportivo será aquele que está apenas para apoiar, dar amparo. O espírito do capelão é de serviço. Ele não posta foto com atletas em redes sociais, mesmo que se tornem amigos, não pede ofertas, não obtém nenhum proveito pessoal. Ele está lá para servir, primeiro ao Reino de Deus, e também aos seus semelhantes.”
The Road to Rio*
É uma Conferência Internacional de Athletes in Action que acontece a cada quatro anos durante as Olimpíadas na cidade sede dos jogos e que reúne missionários que trabalham com atletas com os objetivos de servir os atletas cristãos que vão estar nos jogos e de gerar novos contatos para evangelização, discipulado, aconselhamento e acompanhamento. Este ano, serão aproximadamente 120 cristãos protestantes de 38 nacionalidades que atuarão de 1o. a 20 de agosto em toda a cidade do Rio de Janeiro.
*Textos de Marcus Baridó – capelão protestante oficial da Rio 2016 e estudante de Teologia Online da FTSA