“Pela bênção dos justos a cidade é exaltada, mas pela boca dos ímpios é destruída” (Pv 11:11)
Salomão percebeu uma clara relação entre bênção-justiça-cidade. Retidão, honestidade, sinceridade, justiça suscitam bênção e como conseqüência a cidade é exaltada.
A bênção – o quê da ação
As definições de bênção consideram-na como sendo ato ou ação de benedicere (do latim). Os cristãos, e como conseqüência também a igreja, estão na cidade para abençoá-la. A ação contrária a essa, segundo Salomão, é destruição. Os justos constroem-na; os injustos (ímpios) destroem-na. Enquanto uns querem o bem da cidade; outros buscam o seu mal. Uns querem vê-la exaltada; outros não se importam se ela vier a ser destruída. Certamente Deus quer a exaltação da cidade, mas isso depende dos seus habitantes, especialmente da atitude do Seu povo: “Assim diz o SENHOR: Esta cidade infalivelmente será entregue nas mãos do exército do rei da Babilônia, e este a tomará” (Jr 38:3). Por que seria entregue? Porque o povo de Deus queria ter um estilo de vida como dos babilônicos. Conseqüência: “Como está abandonada a famosa cidade, a cidade de meu folguedo!” (Jr 49:25). O fim foi trágico: “A cidade ficou sitiada até ao undécimo ano do rei Zedequias” (Jr 52:5). Era tragédia anunciada. Em vez do povo de Deus agir como povo agiu como os babilônicos. Se é assim, que reine a babilônia sobre eles e vivam debaixo do seu forte braço impiedoso. Quem não vive para abençoar corre o risco de viver-sofrer debaixo daqueles que estão para amaldiçoar!
Os abençoadores – o quem da ação
Cristãos deveriam ser automaticamente reconhecidos como abençoadores da cidade. Esses abençoadores são instrumentos de Deus para benedicere a cidade. Esses são o quem da ação. Ação exige quem faça. A ação é dependente do agente. São esses agentes, de Deus, os promotores-agenciadores da bênção para a cidade. Uma cidade jamais será abençoada pelo fato de ter nela cristãos. Será abençoado quando esses cristãos agirem. Isso explica porque muitas cidades possuem um número expressivo de cristãos, mas as realidades de violência, injustiça, corrupção, criminalidade, maldade, em tantas outras coisas, não acabam diminuindo. Como explicar uma presença maciça de cristãos em uma cidade e ao mesmo tempo o aumento da maldade. Simples! São cristãos que se confessam cristãos, mas agem como não-cristãos. Deveriam estes serem chamados ou considerados cristãos? João responde: “Desta forma sabemos que estamos nele: aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou” (1 Jo 2:5b-6).
Qual é a marca distintiva do cristão, desse que deve andar como Cristo andou? A justiça (ishrim em hebraico). Não se pode pensar apenas em conduta moral-ética quando se fala em uma pessoa reta, honesta, sincera e justa. Além disso, implica em uma benevolência ativa. Essa benevolência ativa evitará a destruição da cidade pelos ímpios. Falhar nisso é falhar contra a preservação da cidade (compare com Gn 18:23-33).
O abençoador, o benevolente ativo, é um promotor de justiça; a justiça que procede do Pai e seu reino! O cristão que assim não age não pode e nem tem o direito de reclamar quando a injustiça dos ímpios bate em sua porta!
A abençoada – o para quem da ação
A abençoada é a cidade, e conseqüentemente, seus habitantes. “Busquem a prosperidade da cidade para a qual eu os deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela” (Jr 29:7). A palavra aqui para prosperidade (na VNI) também tem o sentido de paz (na RA).
Trata-se agora de uma pergunta missional: para que o cristão abençoa sua cidade, com retidão, honestidade, sinceridade, justiça? Para que por meio dessas atitudes – é pela bênção – a cidade seja exaltada (tholtz em hebraico). São qualidades de um herói: louvar, elogiar, glorificar, enobrecer e exaltar. A qualidade da cidade também depende das ações desse cristão benevolente ativo em seu favor. O ímpio não se importa com a destruição dela, sua moral, desgraça, que fique mal-falada e sua imagem destruída. Por isso sua boca é maldita. Mas o boca do cristão é para benedicere !
E ao abençoar a cidade, em palavras e ações concretas, o cristão se torna cada vez um cidadão consciente da sua dupla cidadania: a celeste e a terrestre – “exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo” (Fp 1:7, NVI).
Este é um santo propósito para viver: servir a cidade por meio da justiça como cristãos comprometidos com a prosperidade integral que é fruto dos valores do reino. Ao sermos assim, daremos testemunho concreto que podemos ser uma igreja para a cidade; demonstraremos o amor de Cristo; buscaremos suprir as necessidades básicas e urgentes da nossa cidade; formaremos discípulos comprometidos com o evangelho encarnado para transformar a cidade; serviremos a cidade como oportunidades para compartilhar a vida transformadora de Cristo.
Esta é a bênção com a qual os abençoadores oferecem para a abençoada! Chega de falar mal da nossa cidade! Que o nosso falar seja em oração (orai pela cidade) e o nosso agir em transformação (busquem a paz).
Jorge Henrique Barro – Doutor em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (EUA), Professor e Responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Institucional (DDI) da Faculdade Teológica Sul Americana, Avaliador do MEC para Teologia
Texto publicado na Revista Ultimato nº 333