“Calamidade (do latim calamitate) ou catástrofe significa desgraça pública, flagelo. Calamidade pública é uma situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido”.
Nesta altura da nossa história é quase impossível que haja uma pessoa que não esteja ciente da calamidade que se abateu no mundo todo e no Brasil. Todos estão sendo afetados e tudo está sendo atingido sem nenhum respeito. Nada e ninguém escapa.
Pensando nisso, fui buscar no profeta Habacuque e na calamidade que assolou o seu tempo, algumas respostas para esta que enfrentamos. É uma breve palavra pastoral e pensando apenas em como podemos enfrentar esses próximos e incertos dias.
Este homem é pouco conhecido nas Escrituras. Sabemos que ele vivia na mesma época do profeta Jeremias e que possui uma fé extraordinária enraizada nas tradições do relacionamento de Deus com o seu povo. Ele habitava no sul de Israel e suas profecias, assim como Jeremias, datam um pouco antes da invasão de Jerusalém pela Babilônia em 597 a.C.
Habacuque está argumentando com Deus que parece ser injusto a maneira como Deus está agindo. Ele estava perplexo com o fato de que iniquidade, contenda e opressão eram galopantes em Judá, mas Deus aparentemente não fazia nada a respeito. Quando lhe disseram que o Senhor estava se preparando para fazer algo através dos babilônios “cruéis” (1.6), sua perplexidade apenas se intensificou: como Deus, que é “puro demais para olhar para o mal” (1.13), indica tal nação “para executar julgamento” (1.12) sobre um povo “mais justo do que eles” (1.13)?
Deus deixa claro, no entanto, que eventualmente o destruidor corrupto será destruído. No final, Habacuque aprende a descansar nas ações soberanas de Deus e a aguardar seu trabalho em espírito de adoração. Ele aprende a esperar pacientemente na fé (2. 3-4) que o reino de Deus será expresso universalmente (2.14).
O livro termina com uma nota de fé e esperança: “Mesmo não florescendo a figueira, não havendo uvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. O Senhor Soberano é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; ele me habilita a andar em lugares altos” (3.17-19).
Algumas lições para nós. Você pode estabelecer outras.
1. Todos nós estamos sujeitos ao desastre e desastre de toda sorte. Pode ser de saúde, econômico, político, social, relacional etc. Estes desastres atingem a todos indistintamente. Não existe essa de que Deus vai poupar o seu povo. Não existe essa coisa de orar e achar que nada vai acontecer comigo ou com minha família.
2. Israel era o povo de Deus no passado e nem por isso foi poupado. Aliás, foi o próprio Deus quem levantou a Babilônia contra o seu povo. Não foi uma ação da Babilônia aparte da vontade soberana de Deus.
3. Habacuque entende o que Deus está fazendo e decide ter fé e esperança no futuro. Ele expressa num dos mais belos versos da Bíblia que Deus está agindo e que os povos vão conhecer o seu nome e que sua glória será vista em todo o mundo: “E a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas enchem o mar” (2.14).
4. Devemos ter essa mesma confiança. Deus não esqueceu seus propósitos, sua missão não terminou ainda. Se Habacuque está vivo para escrever, nós também estamos. Vamos escrever nossa esperança, vamos escrever sobre o agir de Deus em nós por tanto tempo. Será que uma calamidade possa ser tão forte para abalar e destruir os objetivos de Deus para o seu povo?
5. Vamos ser realistas. Habacuque foi ver o que estava acontecendo. Ele viu a escassez, viu a falta de alimentos, viu uma situação aflitiva. Ele sabia que ali tudo iria abalar a todos.
6. Todavia, ao ver os resultados da calamidade, ele se agiganta e se ergue num brado de fé e esperança: “ainda assim…”. Ainda que tudo esteja do jeito que está, ainda que eu não possa ver, ainda que tudo esteja seco e sem possibilidades de verdejar. Ainda assim.
7. Ainda assim, ele profetiza: “eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação”. As circunstâncias devem nos levar ao louvor de Deus e não ao desespero; devem nos levar a crer e não ao estado de incredulidade. Se as circunstâncias determinam se cremos ou não, então estão todos liquidados em nosso relacionamento com Deus.
8. Finalmente, Habacuque expressa sua total confiança na soberania de Deus. Esse Deus soberano é a sua força e o erguerá dessa calamidade. Talvez a doutrina que mais será questionada nestes dias pelo povo de Deus será exatamente esta: a soberania de Deus. Então, haverá gente que escreverá sobre as injustiças de Deus, sobre a inoperância de Deus, sobre o silêncio de Deus.
9. Compete a nós, que somos o povo de Deus, agir com fé, coragem e ousadia.
10. Façamos como Habacuque. Ele não era alienado da realidade, ele sabia o que estava acontecendo, ele foi ver os resultados daquela calamidade.
11. Agora cabe a cada um de nós agir em nossa calamidade. Você pode questionar Deus, mas deve finalmente crer em sua soberania. Você pode transmitir, como Habacuque, com suas palavras e ações uma mensagem de esperança aos que estão desnorteados. Você pode ser uma luz na escuridão. Você pode ser um provedor. Você pode ser o que Deus quer que você seja: sal da terra e luz do mundo.
Conclusão:
Foi para esta hora que Deus salvou você. Ele não somente salvou você para ir para o céu, mas sim para trazer o céu para a terra. Trazer agora e logo!
Ele salvou você para brilhar hoje e não na eternidade. Ele salvou você para praticar o bem hoje. Ele salvou você para viver nesta crise com fé e ousadia.
Crer e obedecer. Crer e fazer. Hoje e agora. Lembre-se que Deus ainda não cumpriu a sua promessa de que toda terra será cheia do conhecimento da sua glória.
Pensar nisso traz grande conforto em relação ao futuro.
Com amor,
Antonio Carlos Barro
Faculdade Teológica Sul Americana