
Mais de 30 anos depois, Deus cumpriu uma promessa e o levou para África onde suas experiências o tornaram parte do povo. E foi lá que ele também conheceu a FTSA e começou os seus estudos de especialização. Conheça a incrível história de um missionário entre os refugiados na África.
Minha ida para África do Sul foi muito interessante:
Estudei dois anos, em regime de internato, no Instituto Bíblico das Assembleias de Deus em Pindamonhangaba (SP), onde conheci minha esposa Noemia. Faltando 20 dias para nosso casamento em 27/03/76, recebi uma carta convite para irmos para Pretoria,
África do Sul, a fim de trabalharmos com os refugiados vindos de Angola e Moçambique. Naquela época não deu certo, houve desacordo com minha liderança, então, iniciei minha carreira ministerial no Paraná, tendo morado em várias cidades do estado, sempre ocupado no mister de divulgar o Evangelho.
Após 32 anos, reacende a chamada para África do Sul. As portas se abrem e em junho de 2007, finalmente desembarcarmos em Pretoria, onde passei a trabalhar numa Igreja de língua Portuguesa. Um fato interessante é que logo ao chegar à cidade, me deparei com um grande grupo de refugiados, vindos de diversas partes da África. Dois dias depois, às 22h00 de uma noite muito fria vendo o sofrimento deste povo, iniciei assim minha jornada missionária entre eles.
Passei a conviver com famílias oriundas de Zimbábue, Tanzânia, Malawi, Burundi, Ruanda, Somália, Congo e Etiópia. Ora no centro da cidade, ora nas Townships, (favelas ou comunidades), cultuávamos com eles, evangelizava, ministrava o ensino bíblico e realizávamos trabalho entre as crianças. Fundei uma Associação e consegui ajuda de diversos órgãos para ajudar as famílias.
O que me marcou muito foi o movimento de xenofobia, ocorrido nos meados de 2008, que fez com que muitas pessoas fossem deslocadas para acampamentos e dispersas pelas cidades da África do Sul. Muitas famílias foram expulsas das favelas e foram buscar auxílios nas Nações Unidas, órgão que dava cobertura para eles. Muitos foram mortos e espancados violentamente. Também tive a alegria de ver famílias que foram repatriadas pela ONU para Canadá, Estados Unidos e outras ficaram no aguardo.
Em 2009, nos transferimos para Durban, onde prosseguimos com o trabalho entre os refugiados e desta feita entre os Angolanos, Moçambicanos e alguns do Cabo Verde. Iniciamos a abertura de uma Igreja onde congregava pessoas Portuguesas, Moçambicanas e até mesmo da África do Sul. Sempre tínhamos um interprete, tanto para o inglês e para os dialetos e idiomas suaíli, francês e outros.
Em 2010, fomos transferidos para Moçambique, onde passamos a residir entre o povo Changana, numa aldeia de nome Palmeira no município de Manhiça. Foi como se tivéssemos regredido no tempo há 40 anos. Moradias feitas de caniço e cobertas com palhas, chão sem cimento, fogão feitos no chão e a lenha. Mulheres pilando o milho para fazer a famosa chima (tipo de uma polenta dura). Cedinho as mulheres carregando seus filhos nas costas se deslocavam para machamba (roça). Aproximadamente em torno das 11 horas, quando o sol começava a esquentar, elas voltavam carregando lenhas em suas cabeças e outras trazendo os frutos da colheita.
Fundamos uma Associação e conseguimos um terreno onde edificamos salas de aulas para atendimento às crianças. Abrimos poços d’água para duas comunidades e construímos, em parceria com o Brasil, um templo de 180 metros quadrado. Ali, realizamos vários trabalhos, chegando a reunir cerca de 600 crianças. Também cooperamos para que dois batismos nas águas fossem realizados com 37 novos crentes. Logo depois, por motivo de segurança, pois fomos assaltados e ameaçados, passamos a residir em Maputo, capital.
Lembro-me também de um fato que marcou nossa vida em Moçambique. Nossa médica cardiologista era de família árabe, muçulmana, em cada consulta terminávamos falando de Jesus e o aceitou com seu Salvador. Iniciamos o discipulado e ela demonstrava muito interesse e amor por Jesus. Foram vários encontros e apesar da contrariedade dos seus familiares, ela perseverou e logo que regressamos nos informou que fora batizada nas águas e está servindo a Cristo com muita alegria.
Estávamos trabalhando em Moçambique como Missionário e conheci o INSTITUTO SUPERIOR DE TEOLOGIA EVANGÉLICA DE MOÇAMBIQUE e resolvi fazer a pós-graduação. Para minha surpresa, o Instituto tinha parceria com a FACULDADE TEOLÓGICA SUL AMERICANA e, isso me deixou muito confiante, pois, sabia que estava cursando numa Faculdade digna de confiança. Participei de aulas com professores com larga experiência como: Antonio Carlos, Jorge Barro, Wander e outros.
Depois ingressamos em outra missão, passamos a realizar trabalho na região central do país, entre o povo Cena, na cidade de Beira. Percorri várias aldeias indo até fronteiras do Malawi, onde o povo falava três dialetos, além do português de Portugal. Vi muita pobreza e opressão, fizemos o que estava ao nosso alcance. Desejávamos continuar avançando para o centro do continente. Mas, por motivo da saúde de minha esposa ter se agravado, em setembro de 2013, regressamos ao Brasil e em 2014 ela foi operada de um tumor em seu intestino (atualmente está bem). Valeu a pena nossa temporada na África, vimos muitas vidas se rederem a Cristo. Sem dúvida somente na eternidade poderemos saber a importância do nosso trabalho na África.
Atualmente residimos na cidade de Piraquara, região metropolitana de Curitiba. Estou iniciando um novo ministério, voltado para obra missionária, buscando entender a cosmovisão e cultura dos povos visando implantar a cultura e cosmovisão cristã. Aproveitando minha estada por aqui, validei meu curso de Bacharel em Teologia e agora estou concluindo a Pós-Graduação na FTSA (iniciada lá em Maputo). Estudar nunca é demais.
Ore por nós, pois, há possibilidade de em breve retornarmos para a África do Sul, para trabalho missionário e estudos.
A Deus toda glória!
Daniel Silviano José é aluno da Pós-Graduação Presencial em Liderança Pastoral