Muitas vezes tenho visto em mim mesmo e em outros a trágica tendência de colocar a culpa em Deus por problemas que nos acontecem. Lendo o livro de Provérbios, enxergamos lá Salomão, que muito sabiamente diz: “As pessoas arruinam a própria vida com sua insensatez: mas sempre acham um jeito de pôr a culpa em Deus” (Provérbios 19).
Nós, que somos cristãos, temos uma grande tendência disso. Fazemos “tudo certo” e então quando dá tudo errado, choramos e oramos e perguntamos para Deus o que aconteceu. Tudo aquilo que dá errado em nossa vida não é culpa de terceiros ou mesmo de Deus, mas nossa, pois é nossa maneira de ver, trabalhar, andar, pensar, falar, querer … que na grande maioria das vezes é insensatez que acaba por arruinar nossos planos, nosso caminho. Toda responsabilidade é nossa.
Antes mesmo de Salomão, já era assim com o povo de Israel. Deus está em Levítico (capítulo 1 e 2), através de Moisés, dando orientações de como devem ser os sacrifícios apresentados no tabernáculo. Uma coisa que me chama a atenção é o fato de se falar que os animais que forem apresentados deveriam ser “sem defeito”. Uma outra frase, que fala sobre o trigo, diz que devia ser “farinha da melhor qualidade”. Ao longo do tempo, vemos na Palavra de Deus profetas que falam sobre isso com o povo, dizendo que estavam trazendo animais defeituosos e ofertas de péssima qualidade, pois deixavam para eles mesmos aquilo que era de maior lucro e para Deus qualquer coisa servia. Até mesmo sacerdotes que recebiam animais perfeitos e os trocavam por animais defeituosos para poder então vender o animal perfeito por um preço alto.
É de inteira responsabilidade de quem oferece para Deus sua própria vida e seus bens entregar para ele o que tem de melhor: o melhor tempo, o melhor esforço, o melhor da vida e tudo o que for melhor.
Na época em que Jesus estava em Israel não era diferente. Quando vamos para Mateus (capítulo 8), ele está narrando o episódio de Jesus entre os gadarenos, quando ele expulsa demônios e estes matam os porcos no precipício. Acho muito interessante a insensatez de quem apenas quer o lucro e o bem pessoal. As pessoas ficaram revoltadas com Jesus, porque no ato de libertação dos endemonhinados, os seus porcos se perderam, os seus bens se perderam. Como, para muitos, os bens valem mais que pessoas. Não conseguiram enxergar a libertação de dois homens que ficavam pertubando no caminho das suas cidades, mas enxergaram apenas a perda financeira e colocaram tanto a culpa em Jesus que falaram com ele para nunca mais voltar aquele lugar. Mateus afirma que: “O povo ficou revoltado por causa dos porcos que se perderam, e uma multidão foi implorar a Jesus que saísse dali e nunca mais voltasse”. A insensatez. Expulsando o próprio Deus da vida, preferindo o lucro, os bens às pessoas.
Como diz o livro de Provérbios: “As pessoas arruinam a própria vida com sua insensatez: mas sempre acham um jeito de pôr a culpa em Deus”.
Precisamos fazer perguntas a nós mesmos e tomar atitudes diferentes: Temos dado para Deus nosso melhor tempo? E os nossos bens, são dedicados a Deus? Achamos mais importante nossa fé, nossa maneira de cultuar, nossa religiosidade que a vida de pessoas que se perdem ao nosso redor? Quando estamos envoltos em uma discussão ou mesmo em um problema, nossa principal prioridade é a preservação das coisas a qualquer custo ou a vida da pessoas?
Há muito que se pensar e muito que se decidir.
Gedeon J. Lidório Jr é Bacharel em Teologia pela FTSA – Especialista em Missões Urbanas e Crescimento de Igreja pela FTSA (DMin) – Habilitado em Antropologia Cultural (Instituto Antropos)