Dia do professor e a missão de ensinar

Professores brilhantes ensinam para uma profissão.
Professores fascinantes ensinam para a vida.
Augusto Cury

Todo dia é dia de ensino e educação! Os países escolherem seus dias diferentes para honrar e celebrar seus professores(as), de acordo com alguma situação ocorrida. No caso do Brasil, o dia escolhido é 15 de outubro. Isso porque em 15 de outubro de 1827, foi sancionada por Dom Pedro I a 1ª. Lei de Educação do Brasil, contendo 17 artigos, que organizou o Ensino Elementar.

Em 1947, Salomão Becker, que lecionava na escola chamada Ginásio Caetano de Campos, situada na Rua Augusta em São Paulo, teve a ideia de organizar uma confraternização entre professores e alunos, e decidiu-se pela data 15 de outubro como momento oportuno para estabelecer um dia de folga a esses profissionais tão atarefados, como sempre! Assim, em 1948, o Governador Ademar de Barros declarou feriado escolar no Estado de São Paulo, tornando oficial a celebração do professor(a) no dia 15 de outubro. Em nível federal, o Ministério da Educação, no governo do presidente João Goulart, instituiu a semana do professor(a) em 1963, por meio do Decreto Federal nº 52.682, reconhecendo nacionalmente o Dia do Professor(a) no dia 15 de outubro.

“A educação exige os maiores cuidados,
porque influi sobre toda a vida”
Sêneca

O ensino de Jesus

O ensino de Jesus foi exatamente assim, influi toda a vida! É impressionante o número de vezes que a palavra mestre é mencionada nas quatro narrativas do Evangelho. A palavra aparece como Mestre (maiúsculo), referência exclusiva para Jesus, o Rabi (que quer dizer Mestre – Jo 1:38; 3:2), e também aparece como mestre (minúsculo) como uso comum.

O seu ministério público foi marcado pelo ensino (disdako), como aquele que instruía seus discípulos como também não-discípulos. Mateus diz que “tendo acabado Jesus de dar estas instruções a seus doze discípulos, partiu dali a ensinar…” Ele ensinava nas sinagogas (Mc 1:21; 6:2), à beira-mar (Mc 4:4), nas aldeias circunvizinhas (Mc 6:6), para as multidões (Mc 2:13), no templo (Mc 11:17; Lc 19:47; 21:37; Jo 7:14; 8:2,20), no sábado (Mc 6:6; 13:10).

O ensino de Jesus provoca reações nas pessoas. Uns “maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas (Mc 1:22), e outros se enchiam de ira pelo tom do seu ensino com recorte profético (Lc 4:28-29).

O ministério de Jesus foi marcado por uma tríade missional que incluía o ensino: “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando (servindo) toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9:35). Quando lemos as quatro narrativas do Evangelho vemos registrado tudo o que Jesus fazia (obras) e dizia (palavras) (ver Lc 24:19) essa tríade missional-ministerial. Essa tríade é o resumo da vida e ministério de Jesus.

Importante destacar a integralidade da missão em Jesus pois, não o vemos priorizando uma ação em detrimento da outra. Ou seja, enquanto Jesus ensinava ele pregava e ele servia. Jesus não priorizou uma em detrimento da outra. Muitas pessoas perguntam qual destas três ênfases missionais vem primeiro. Jesus responderia: – “pergunta irrelevante”. Por quê? Porque a missão de Deus é realizada por meio do ensino-proclamação-serviço! Trata-se da missão de pregar, a missão de ensinar e a missão de servir, revelando assim as boas-novas do reino de Deus!

O ensino é uma das agendas da missão, conforme nos confiou Jesus: “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28:20). Essa palavra “ensinando-os” no grego é a conhecida palavra didasko, que possui as seguintes possibilidades: ensinar alguém a fim de instruir, pronunciar discursos didáticos como um professor deve fazer, ensinando, explicando ou expondo algo.

A instrução é uma condição necessária para a missão e discipulado. Todos os novos seguidores de Jesus devem ser ensinados/instruídos sobre a fé e o dever cristão, e como obter a ajuda de Deus para capacitá-lo, e assim, agradá-Lo. Essa tarefa de discipulado implica em ensinar os novos seguidores de guardar/obedecer todas as coisas que Jesus ordenou. Ou seja, simplesmente tudo o que Jesus ensinou e ordenou durante os seus três anos de ministério. Jesus era (e continua sendo) o livro texto obrigatório dos novos estudantes (discípulos = matetes), bem como sua igreja.

 

A instrução de Lucas

Note a fidelidade de Lucas em relação a “todas as coisas que vos tenho ordenado”: Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas (At 1:1-2).

Veja que Lucas faz questão de mostrar que entregará um livro para Teófilo (ou seja, o Evangelho) relatando tudo o que Jesus ensinou “até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas” (At 1:2). Impressionante!!! Ele registra os ensinos de Jesus até aquele último segundo que antecedeu Sua ascensão.

E tem mais ainda! No prólogo do Evangelho narrado por Lucas, ele assim diz: … igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído (Lc 1:3-4).

Só faz isso quem tem um coração e uma preocupação pastoral-missional! Aqui está um homem, chamado Teófilo, que estava em dúvida se Jesus de fato era o único caminho. Se de fato as verdades, ditas a alguém que começou o discipulado com ele, era o que ele deveria crer. O que iria trazer a Teófilo essa “plena certeza”? Lucas nos diz que seria por meio de um livro – “escrevi o primeiro livro, ó Teófilo” – e esse livro era simplesmente o próprio Jesus! Esse livro era a própria vida de Jesus, ou seja, todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar.

Trata-se da missão didático-pedagógica de ensinar a obedecer (não apenas saber) todas as coisas que Jesus ensinou. Ou seja, ensinar as pessoas tudo o que está sobre Jesus em Mateus, Marcos, Lucas e João! Que tal?

 

A exortação de Paulo

A tarefa do ensino é árdua, imensa e desafiadora. Por isso, fica a advertência do apóstolo Paulo que “o que ensina esmere-se no fazê-lo” (Rm 12:7). Tal esforço muitas vezes implica em dores – “meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto”, cujo alvo é “até ser Cristo formado em vós” (Gl 4:19-20).

Meu desejo é que, por meio dessa breve e singela reflexão, sejamos nós, professores e professoras, encorajados a mantermos o foco dessa maravilhosa e abençoada missão de ensinar. Cuidando para que o conselho de Paulo “esmere-se” – cuidado extremo em qualquer tarefa – seja uma realidade em nossa caminhada como mestres, instrutores e discipuladores.

Para essa missão, nem sempre valorizada, especialmente financeiramente falando, o apóstolo Paulo deixou outra exortação que “devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Tm 5:17). Apesar disso, que não falte o entusiasmo pelo reconhecimento das sementes que plantamos e dos frutos que colhemos.

Assim, que Deus nos sustente nessa missão de ensinar para que, como disse Salomão, as pessoas possam “aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade”. Que nobre missão é essa de ensinar para influir sobre toda a vida!

Dedico assim, carinhosamente, as felicitações a você, mestre(a) do ensino que transforma. Parabéns! Celebre sua vocação a serviço do reino de Deus onde e quando você estiver!

 

Jorge Henrique Barro
Diretor Executivo da Faculdade Teológica Sul Americana