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Dia 30 de novembro celebra-se o Dia do Teólogo. Suspeito que uma minoria saiba disso e, mesmo sabendo, o que celebra?
Normalmente o ser humano só percebe o valor daquilo que o outro faz quando dele precisa. Fico imaginando o que pensam as pessoas sobre os Teólogos. Usei minha imaginação e algumas coisas me vieram a mente.
Pensam, talvez, que…
– São aqueles que escrevem e falam difícil;
– São muito estudiosos;
– São aqueles que dormem nas bibliotecas;
– São os que menos pecam, porque o tempo todo estudam Bíblia e estão próximos de Deus;
– São mestres iluminados.
Procurei algumas definições sobre quem é Teólogo. Duas delas me chamaram a atenção:
1. “Uma pessoa que engaja ou um expert em Teologia” (Oxford Dictionaries);
2. “Um estudante de Teologia” (Cambrigde Dictionary).
A primeira definição (“uma pessoa que engaja ou um expert em Teologia“) me causa estranheza quando inserida a palavra “ou”. “Ou” é um engajado “ou” é um expert. De forma alguma, tal separação é justamente a morte de um Teólogo, pois separa o “agir” do “pensar”. Essa tem sido uma visão comum na percepção das pessoas, que um Teólogo é um teórico, que fala/escreve muito e não faz nada.
Tal compreensão me faz pensar nos Franciscanos (1209) e Dominicanos (1216). Dois movimentos que surgiram na periferia da igreja, que ficaram conhecidos pela disputa entre si. Era comum ouvir a respeito deles: Dos Franciscanos aos Dominicanos – “Vocês pensam muito e não fazem nada”. E dos Dominicanos aos Franciscanos – “Vocês fazem muito e não pensam nada”. Tal dicotomia é imprópria.
Foi justamente combatendo esta dicotomia que Jesus assim concluiu seu Sermão do Monte:
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína (Mt 7:24-27).
O que se faz em relação as palavras? Se ouve! Ao ouvir uma encruzilhada se estabelece: praticar e não praticar. Ao praticante se lhe confere o adjeto de “prudente”. Ao não praticante de “insensato”. Prudência está relacionado com coerência. A pessoa prudente é uma pessoa coerente, porque não sofre da esquizofrenia entre o que ouve, praticando outra coisa. Prudência é o equilíbrio entre teoria e prática.
E foi justamente por isso – essa esquizofrenia entre ouvir e praticar – que as pessoas testemunharam o seguinte em relação a Jesus:
Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas (Mt 7:28-29).
Eis aí a diferença visível entre o que ouve e pratica e entre o que ouve e não pratica! Os escribas ensinavam o perdão, mas foram eles (junto com os fariseus), que trouxeram uma mulher surpreendida em adultério na presença de Jesus querendo ouvir dele uma condenação veemente. E saíram triste porque Jesus perdoou aquela que eles queriam condenar.
O Teólogo tem o desafio da coerência, de viver em sua vida aquilo que fala ou escreve!
A segunda definição propõe um caminho mais adequado e condizente, que o Teólogo é “um estudante de Teologia”. Teologia é “Theo” + “logia”. Theo é o objeto de estudo. Deus é estudado pelo estudante. Ele é a fonte do esforço teológico. O Teólogo não estuda para dissecá-lo, mas para amá-lo. Antes de ser acadêmico, o Teólogo é um apaixonado – “Eu te amo, ó SENHOR, força minha” (Sl 18:1). E porque O ama, quer conhece-lo sempre mais e mais, pois sabe que “a intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Sl 25:14).
Por outro lado, o Teólogo se esforça no logia. Esse é seu papel: estudar, refletir, analisar, racionar, pensar, pesquisar. Para isso estuda com dedicação e zelo, pois sabe que o fruto de seu esforço chegará as pessoas para que possam conhecer e amar Deus também. O próprio Jesus disse que o escriba deve ser versado no reino dos céus (Mt 13:51-52). Versado no grego é μαθητευω (matheteuo) que é ser discípulo de alguém, seguir seus preceitos e instruções, tornar discípulo, ensinar e instruir. O Teólogo é um discípulo. Mas não um discípulo qualquer. É um discípulo do Mestre. Não ensina de si mesmo e tão pouco para si mesmo. Seu alvo não são os títulos de mestre, doutor ou pós-doutor. Seu alvo é Cristo, ser como Cristo, para “andar como ele andou” (1 Jo 2:5-6).
Ser um permanente “estudante de teologia” exige humildade. Ninguém aprende se não for humilde. E o Teólogo não está estudando meramente conceitos, mas uma pessoa. Deus não é um conceito; Deus é pessoa no Pai, Filho e Espírito Santo. E quando se aproxima dessa Pessoa, sabe que é um miserável pecador, indigno de permanecer diante dEle. Teologia e soberba não combinam e não se relacionam. Sabe que o que agrada a Deus é “o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51:17).
“Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio” – Santo Agostinho
Mais do que desejar um feliz dia dos Teólogos, desejo que os Teólogos sejam felizes porque são amados de Deus e amam a Deus!
1- Com esse título, incluindo Teólogas, vocês mulheres sintam-se incluídas todas as vezes que eu menciono a palavra Teólogo. De outro modo, ficaria muito pesada a leitura. Porém, saibam todas Teólogas que precisamos de vocês, de seus olhares e perspectivas, pois Deus as fez na totalidade da sua imago Dei.
Jorge Henrique Barro – É doutor em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (Pasadena. Califórnia – USA). Co-fundador e diretor geral da Faculdade Teológica Sul Americana de Londrina.