Menos Religião, Mais Justiça

Amo demais os profetas do Antigo Testamento. São geralmente considerados visionários nem tanto do sentido de revelar acontecimentos futuros mas de corrigir os rumos equivocados de um povo através da pregação/persuasão e em obediência ao chamado de Deus.

Provavelmente a maior contribuição que podemos tirar dos profetas não é decifrar os acontecimentos dos últimos tempos. A maior contribuição deles para nossa vida e ministério é o senso de autocrítica de nossas práticas religiosas.

Quando leio os profetas me convenço de que Deus é contra a religião. É impressionante como eles foram críticos à religião estabelecida. Assim também Jesus, nessa mesma tradição profética, condenava o legalismo, ritualismo e a forma de religião que não produzia vida, graça, amor e compaixão.

Os profetas foram certamente atrevidos. Olha o que Isaías anuncia da parte de Deus.

Chega de joguinhos religiosos! Não suporto mais essa encenação.
Conferências mensais, agenda sabática, encontros especiais,reuniões, reuniões e mais reuniões – não aguento ouvir falar em reunião!
São reuniões para isto, reuniões para aquilo. Chega de reuniões!
Vocês me cansaram!
Estou cansado de religião, de tanta religião, enquanto vocês continuam pecando.
Quando fizerem a próxima oração coletiva, eu vou olhar para o outro lado.
Não importa se oram alto, por muito tempo ou com frequência; eu não vou dar ouvidos.
Sabem por quê? Porque vocês têm trucidado pessoas, e suas mãos estão cheias de sangue. (Is 1.13-15, A Mensagem)

Esse é o tom da pregação de vários profetas, principalmente os do século 8 a.C., época de prosperidade, avanço e relativa estabilidade política, mas também período de muita injustiça e corrupção.

Mas talvez você diga, ‘Eh! Mas aquela era uma falsa religião’. É bom lembrar que o profeta se dirige ao povo de Jerusalém e Judá, o povo da aliança, não aos cananeus ou a outros povos. Então, é possível mesmo aos que creem no Deus verdadeiro praticar uma falsa religião?

Isaías diz ainda: “Vão para casa e se lavem, limpem essa sujeira toda, esfreguem a vida até que saiam as suas maldades, para que eu não seja mais obrigado a olhar para elas. Digam: ‘Não’ para o mal. Aprendem a fazer o bem. Trabalhem pela justiça. Ajudem os oprimidos e os marginalizados. Faça alguma coisa pelos sem-teto. Levanta a voz em favor dos indefesos” (Is 1.16-17, A Mensagem).

Tiago também disse que a religião “pura e sem mácula” diante de Deus é acudir órfãos e viúvas e não se deixar levar pela secularização do mundo que despreza Deus.

Crer no Deus verdadeiro e ser povo da aliança não garante que estamos praticando a verdadeira religião. Se vamos levar a sério a pregação dos profetas, precisamos fazer uma autocrítica de nossas práticas para verificar se estamos servindo o Deus verdadeiro com falsa religião.

Termino com as palavras de Miqueias:
“Mais ele já deixou claro como devemos viver: o que fazer, o que ele procura em homens e mulheres. É muito simples: façam o que é correto e justo ao próximo, sejam compassivos e leais em seu amor e não se levem tão a sério – levem o Eterno a sério” (Mq 6.8, A Mensagem).

William (Billy) Lane é pastor presbiteriano, doutor em Antigo Testamento e diretor acadêmico da Faculdade Teológica Sul-Americana.