Editorial – Práxis Nº 30
25 anos. Parabéns, FTSA!
Para o povo cristão, jubileu é sinônimo de festa! É um vocábulo que convida todos à celebração, à comemoração das conquistas, à revisitação dos processos, aos contratempos das reminiscências e ao registro dos acontecimentos.
Em 2019, a FTSA completará 25 anos. Trata-se de um momento em que serão contadas as bênçãos (Sl 90:12): dos egressos (Mt 9:38), dos discentes (Mc 16:15), dos docentes (Rm 12:7), das instituições cristãs-evangélicas parceiras (1Jo 1:1-2), das aquisições realizadas (1Co 16:13-18), dos estandartes às gentes (Is 62:10), enfim de todos os que direta e indiretamente vêm colaborando com o sucesso de nossa Casa de Profetas, que está constantemente preparando vidas para servir o reino de Deus. Neste sentido, a edição nº 30 da Práxis Evangélica está sendo entregue ao público de leitores e apreciadores para prestígio, compartir da fé, da pesquisa e das produções de nossos colaboradores (internos e externos). Que cada leitor e leitora sejam agraciados com a leitura e reflexão desta revista.
Pode-se considerar o nascedouro deste periódico em discussões das Semanas Pedagógicas da FTSA, em cujas ocasiões os docentes costumavam fazer referência à construção de uma revista acadêmica institucional, um formato de opúsculo para difusão de artigos e resenhas. Precisamente em novembro de 2002, foi publicado o nº 1 da revista, dando oportunidade aos professores da pós-graduação, da graduação e de alguns convidados. Sob a supervisão de edição dos professores Jorge Henrique Barro e Júlio Paulo Tavares Zabatiero, a Práxis Evangélica inscreveu-se no cenário nacional e projetou-se como uma revista de teologia prática latino-americana. Foi a primeira revista a contemplar quatro grandes áreas do curso de formação teológica: bíblia, teologia prática, teologia sistemática e análise da realidade. Dada à sua estrutura e organização de publicação, há exatamente 16 anos o periódico vem cumprindo o programa de fomento, divulgação e produção científica.
No presente número, o primeiro artigo será de um dos fundadores da FTSA. Em 2010, um texto dele já havia sido mencionado, referindo-se aos dez anos da FTSA. Ainda como participante e observador, o historiador Wander de Lara Proença esboça a trajetória da FTSA pelos 25 anos de existência. Partindo de uma veia historiográfica, o autor compartilha alguns cenários vivenciados pela instituição: seminário, colégio, igreja e região universitária. Com riqueza em detalhes e procedimentos, relata sobre os registros que a instituição percorreu, situando pessoas, acontecimentos, desafios e conquistas. Em suas palavras, “a FTSA se consolidou no âmbito teológico como uma das mais pujantes e representativas instituições de ensino [teológico] superior no Brasil”. Em seu artigo é possível reler os períodos de ministério educativo testemunhado pela instituição: as origens do seminário, os fundadores em espaço urbano londrinense, a identidade teológica em espaços diversos, o projeto pedagógico, o alinhamento com o MEC (Ministério da Educação e Cultura), a FTSA sem fronteiras (ensino a distância), o programa de treinamento de liderança, e, finalmente, a configuração dos perfis de estudantes contemporâneos. Para os que admiram o ministério da FTSA, o texto deste professor é altamente recomendado.
Na sequência, Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek, de tradição batista, compartilha uma introdução ao Conceito de sagrado de Rudolf Otto, destacando o estudo semântico de Numinoso, Lumen, Tremendum, Fascinans, Majestas e Orgê, em perspectiva do binômio racional e irracional. Seu texto esboça os fundamentos da fenomenologia da religião – disciplina amplamente presente nos cursos de formação teológica – e o desenvolvimento dos conceitos advindos da linguagem e experiência religiosa. Baseando-se em outros apreciadores, Dusilek concorda com Vitória Peres de Oliveira e identifica Otto como um fenomenólogo pela sua “defesa do numinoso como a essência universal, a estrutura única da experiência religiosa, aquilo que permite identificar um fenômeno religioso” (Oliveira apud Dreher, 2003, p. 39). Leitura direcionada para os que buscam reler a obra O Sagrado, de Otto, e atualizar alguns conceitos sobre o fenômeno religioso.
A oportunidade também é oferecida à pesquisadora Mariana Eugenio Schietti, estudiosa sobre os temas da Dogmática Cristã e mestranda em Teologia, área de Bíblia. Sua investigação deu-se qualitativamente na Detecção do conceito de pecado pela juventude contemporânea, cujo cenário foi observar dois movimentos atuais: Igreja Bola de Neve de Londrina e Eu Escolhi Esperar, e de duas lideranças do cenário nacional, Sarah Sheeva e Pastor Lucinho Barreto. A partir dos dados colhidos, foi realizada a análise bíblica e teológica, ressaltando-se a produção de sentido e significado para os jovens pertencentes a esses movimentos. Esta pesquisa vem colaborar com estatísticas mais atualizadas sobre como os movimentos cristãos, considerados alternativos e/ou contemporâneos, têm correspondido às demandas ministeriais, principalmente os que agregam grupos de adolescentes e jovens. A autora faz consideráveis alertas sobre como as questões de hermenêutica, exegese e dogmáticas são ignoradas à luz da compreensão de que os atuais jovens são guiados pelo Espírito. A relevância deste artigo auxiliará os líderes que atuam em ministérios com jovens e adolescentes, além de refletir sobre questões cognitivas sobre compreensão e interpretação do pecado.
Com o artigo intitulado O reino de Deus no Novo Testamento, os professores Flavio Schmitt e Nelson Oliveira Sá, da Escola Superior de Teologia (EST, São Leopoldo-RS), compartilham a construção deste conceito a partir do contexto sócio-histórico do Evangelho de Marcos. Para eles, “o estudo do reino de Deus é uma espécie de microcosmos que reflete exatamente a tensão macro que caracteriza a Teologia do Novo Testamento como um todo”. Ambos justificam que precisaram sair do trivial para buscar um conceito mais próximo, um que fora ensinado pelo próprio Senhor Jesus. Afinal, o sucesso da pregação de Jesus foi o reino proclamado que incluía os grupos sociais mais vulneráveis e marginalizados, assim como exigia um compromisso ético daqueles que faziam adesão ao movimento do Mestre. Do ponto de vista escatológico, o conceito é visivelmente uma leitura da dinastia davídica sendo atualizada pela nova aliança. Este artigo contém ricas informações sobre como compreender o conceito de reino de Deus em perspectiva dos evangelistas, ou seja, uma teologia bíblica dos ensinos de Jesus. Excelente artigo para ser lido juntamente com o Evangelho de Marcos, observando-se as perícopes e as aproximações do contexto social.
Carlos Jeremias Klein compartilha o artigo A ressurreição na morte em debate na teologia contemporânea, debatendo as questões do século XX: imortalidade da alma ou ressurreição do corpo e ressurreição na morte ou no último dia. Com clareza e síntese, Klein expõe o pensamento dos principais teólogos, tais como: Calvino, Lutero, Brunner, Tillich, Cullmann, Boff, Rahner, Pannenberg, La Peña, Moltmann, Ancona, entre outros, e ressalta a importância da doutrina da ressurreição na contemporaneidade, pois a fé creditada à ressurreição, possibilita em si as energias de vida e transformação do mundo. Este artigo retoma o tema da ressurreição, enfatizado nos períodos históricos da História da Igreja Cristã, desde as confissões de fé, principalmente o Símbolo de Niceia-Constantinopla (325-381).
A participação internacional é do Estado de Chiapas, México. Pedro Robledo Ramírez, docente da área de Bíblia, disserta sobre De Jerusalén a Otras Ciudades. Trata-se da mensagem do Evangelho de Salvação em grandes centros urbanos descritas em Atos 1-15. O objetivo é demonstrar como o Evangelho de Jesus e do reino de Deus foi proclamado por meio do testemunho diaconal e apostólico, seguido de milagres e ensinamentos – roteiro este que caracterizou a identidade das comunidades cristãs em seus primórdios e que deu sentido à tarefa missionária. Forte ênfase é dada sobre o trabalho do Espírito Santo, tanto para o entendimento como para a capacitação de cristãos para o exercício ministerial. É um texto de leitura dinâmica, agradável e com riqueza no detalhamento da literatura lucana (Evangelho e o livro de Atos), das ciências multidisciplinares (geografia, missiologia e teologia) e dos relatos da igreja cristã em Jerusalém e demais centros urbanos. Excelente conteúdo para entendimento bíblico da missão urbana.
David Mesquiati de Oliveira, de tradição pentecostal das Assembleias de Deus, delimita o assunto de seu artigo Tomando posse da Palavra e demonstra como é a leitura bíblica pentecostal em solo brasileiro. Partindo da experiência religiosa, a proposta é demonstrar quatro características da leitura da Bíblia que faz sentido para a vida cristã. Em seu artigo, há uma excelente descrição da origem do modo de ser pentecostal no Brasil, isto é, são demonstradas as características do pentecostalismo nativo. Encontra-se também tons acentuados de discernimento histórico e teológico acerca da educação teológica em ambientes pentecostais. Por fim, Oliveira direciona sua análise para os desigrejados e para uma correta compreensão do que significa tomar a Bíblia como Palavra de Deus, seguida da máxima de como os pentecostais leem a Bíblia. Texto recomendado para os que desejam compreender as tipologias de leitura da Bíblia em igrejas pentecostais, além das características que identificam os leitores multidenominacionais.
O crescimento da Igreja à luz de Atos 1:8 é a reflexão proposta pelos expoentes Erico Tadeu Xavier e Isaac Malheiros. Ambos situam a expansão da igreja a partir do relato da Grande Comissão, tanto de Lucas como de Atos. Com acesso à bibliografia exegética, os autores interpretam o contexto do mandato de Atos essencialmente eclesiológico. Para eles, a indicação escriturística é normativa, pois estabelece os critérios da experiência de crescimento da igreja primitiva. Vale ainda dizer que o artigo é construído a partir da lexicografia, da semântica e das relações intratextuais do próprio livro de Atos. Confirma-se, também, a aplicação desta passagem com os escritos de Ellen G. White, uma vez que os autores são de tradição adventista – ênfase percebida com muita coerência, ou seja, o crescimento da igreja é resultado do programa de evangelização. Este artigo fornece, com muita propriedade, alguns fundamentos bíblicos para o crescimento qualitativo e quantitativo da igreja, dos quais julga-se o testemunho cristão como o mais enfático.
Na sequência, o nono artigo é pautado por Francisco Alves de Oliveira, questionando sobre os efeitos práticos que O crescimento evangélico no Brasil tem causado para a sociedade. Em sua análise, Oliveira afirma que o movimento evangélico é ainda tímido porque divulga um discurso pautado em comportamento e não em transformação social. É interessante observar como o autor pontua as áreas nas quais a atuação evangélica poderia ser mais evidente, tais como: política, ecologia, cultura, questões sociais, corrupção, violência e intolerância. Questiona-se ainda os reflexos que o movimento evangélico deveria já ter ocasionado, mas que encontra-se adormecido. A leitura deste texto conduz o leitor à conclusão de que o grupo dos evangélicos precisa fortificar-se em torno do sentido da unidade cristã e mover-se conjuntamente à prática dos valores do reino.
O nordeste do Brasil se faz representado pelo professor José Carlos Estrela de Andrade, com o artigo Expandindo a igreja através dos pequenos grupos, e cuja intenção é discutir, mais uma vez, sobre a importância que o ministério de pequenos grupos tem para o alcance de pessoas. Vale ressaltar que esta modalidade é que promove os efeitos da comunhão e da edificação – frutos da evangelização, do discipulado e, principalmente, do cuidado de pessoas. Dá-se atenção à maneira como Andrade conversa com as fontes de pesquisa e consulta, isto é, há autores que comentam sobre o ministério igreja em células decorrente da compreensão de ministério de pequenos grupos. Além destes, ministérios, o assunto relaciona-se com as demandas da pastoral urbana, do plantio de igrejas e do alcance geográfico. Para os que trabalham com a temática de crescimento de igreja, evangelização e missão urbana é uma excelente leitura.
Ainda sobre a temática eclesiológica, Diogo Souza Magalhães, do Estado de Tocantins (região norte), oferece uma reflexão acerca de Uma Igreja artesanal. O objetivo é contribuir com o conceito deste modelo enquanto ação cristã evangélica, ou seja, buscar e difundir a simplicidade do Evangelho e a singularidade das estruturas eclesiásticas. Magalhães é pastor e desenvolve esta modalidade porque acredita ser um modelo pautado na experiência e desdobramentos das relações humanas vividas em comunidade. Seu texto fornece subsídios para o exercício de uma espiritualidade em busca da vida interior, de um cristocentrismo mediado pelas Escrituras, de um entranhamento do Espírito Santo, da vivência dos dons e ministérios em comunidades cristãs. Acredita-se que este modelo proporciona autenticidade da vida cristã, conscientização do culto como celebração da vida e o cultivo dos relacionamentos como experiência comunitária. Texto recomendado para líderes e pessoas envolvidas em projetos e programas de crescimento de igrejas.
Gilson Lopes Soares, com larga experiência em educação, traz à tona um tema alarmante e, ao mesmo tempo, crucial a respeito de um segmento ainda ignorado por muitos. De forma didática e reflexiva, seu artigo trata das Crianças violentadas. Qual o papel da Igreja: protege, legitima ou perpetua a violência? – levando o leitor a pensar em respostas breves e rápidas. O conteúdo de seu artigo versa sobre a abrangência que a violência sexual infantil tem provocado no cenário nacional e internacional, principalmente em ambientes eclesiásticos. Seu estudo demonstra seriedade e elenca quatro proposições pelas quais a igreja cristã precisa testificar à sociedade. Tais recomendações servem como diretrizes de ações pastorais, voltadas à conscientização, à orientação e, na maioria dos casos, ao acompanhamento dos que sofreram violência. Em cenários eclesiásticos, além da proteção à criança, que é o mais importante, e repudiando este crime, a igreja estará sendo exemplo para outras pessoas ou instituições no combate à violência sexual infantil, contribuindo para a sua diminuição, cumprindo o seu papel e fazendo a diferença no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes.
Para finalizar, duas resenhas completam o atual periódico. A primeira é sobre a obra Ecologia: um mosaico, organizada por Afonso Murad. As resenhistas são: Priscila Moreira Amaro, engenheira agrônoma e estudante de Teologia, e Vanessa Carvalho de Mello da Cunha Pereira, orientadora pedagógica e coordenadora de Projeto de Iniciação Científica O papel da mulher na Teologia. A relevância desta temática compreende as áreas da Espiritualidade Cristã, da Mordomia Cristã (cuidado com a criação) e da Pastoral Urbana, dentre outras. Pensou-se em mosaico porque refere-se à relação de construção entre o Sistema-Vida com o Sistema-Terra, promovendo assim a nova consciência planetária. As resenhistas enfatizam que a Ecoteologia é um convite aos cristãos e à sociedade a mudarem suas atitudes pessoais. E a segunda resenha foi apreciada pelo graduado em Teologia Felipe Nakamura, que apresentou, observou e recomendou a obra Hermenêutica Contextual, de Júlio Zabatiero. A proposta foi demonstrar a metodologia de compreensão e aplicação desta disciplina em textos e contextos, sejam eles bíblicos ou não. De imediato, afirma-se que a hermenêutica, exemplarmente em solo latino americano precisa ser compreendida à luz da Teologia da Libertação e da Teologia da Missão Integral. Não se trata de uma apologia, mas sim de dar crédito às fórmulas que tais modelos teológicos dinamizaram a compreensão do Evangelho por todos aqueles que leram, traduziram e aplicaram a mensagem bíblica ao povo latino americano.
As palavras finais são direcionadas a todos os leitores, homens e mulheres, que vêm se debruçando em cada artigo e resenha ao longo destes 16 anos de produção e publicação acadêmica. Estamos finalizando a edição impressa da Práxis Evangélica! Sim, o número 30 encerra as despesas com papéis e encadernações. Mas não é o fim do programa de publicação da FTSA. A Práxis Missional vem, há dois números, ocupando o atual espaço em formato digital e totalmente gratuita. Fica registrada nossa profunda gratidão aos colaboradores, às instituições que utilizam do serviço de permutas, aos que continham assinaturas e fortuitamente aos que abraçaram este ministério. Muito obrigado.
Que cada leitor(a) encontre nas palavras deste periódico novos sabores: o do conhecimento, o da crítica e o da transcendência.
Ênio Caldeira Pinto | Jonathan Menezes
Editores
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