O caminho do poder

Imagine se você fosse a pessoa mais poderosa do mundo. Imagine se você tivesse o poder de decidir tudo, inclusive o destino das pessoas. Imagine se você todos estivessem abaixo de você. Imagine ser um líder que ninguém questiona e só recebe honra e obediência. Imagine se num estalar de dedos tudo se faz. Imagine que acima de você só existe Deus. Apenas imagine, ainda que por exercício.

Era inverno. Chegou a época de celebrar em Jerusalém a Festa da Dedicação. E Jesus andava Jesus passeando no templo, no pórtico de Salomão. Foi ai que rodearam-no alguns judeus para fazer uma pergunta cheia de curiosidade: “Até quando nos deixarás perplexos? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente” (Jo 10:24).

Obviamente que uma simples resposta cabia aqui: “sim, eu sou” ou “não, eu não sou”. Simples assim. E a resposta foi: “Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho de mim. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. Eu e o Pai somos um”.

Foi exigido desses judeus um passo de fé: crer! Mas eles não creram! E Jesus os convoca a crer olhando para as obras que ela fazia “em nome do meu Pai”. Jesus aponta para o Pai. Diante de tal intrigante resposta, os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar”.

Depois disto João relata que Marta, ao responder uma pergunta de Jesus, diz: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (Jo 10:27).

A partir deste momento Jesus começa sua caminha para revelar de fato quem era o Messias. E essa caminhada começa com seus discípulos, a partir do capítulo 13 de João. De agora em diante o mundo saberá quem é esse Messias.

Ele finalmente dará uma resposta curta e direta ao sumo sacerdote quando o interroga: “És tu o Cristo, o Filho do Deus bendito? Respondeu Jesus: Eu o sou; e vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu (Mt 14:61-62).

Eis a resposta tão esperada! “Eu sou o Messias”. E ainda adiciona que ele é o único que terá o privilégio de assentar ao lado do Todo-Poderoso.

Eis aqui a questão que começamos sugeri a imaginação do início da reflexão: imagine se você fosse a pessoa mais poderosa do mundo. O que faria? Olhemos para o que fez Jesus registrado em João 13:3:

“Jesus, sabendo que o Pai lhe entregara tudo nas mãos, e que viera de Deus e para Deus voltava” (Revista e Atualizada)

“Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus” (NVI)

Este é o fato: Jesus sabia! O que? “Que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder?” Jesus tem o poder sobre “todas as coisas”.

E como usou este poder?

A cena é forte! Ele, Jesus, o Messias Todo-Poderoso “levantou-se da ceia, tirou o manto e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido” (Jo 13:4-5).

Usou todo o poder para servir! Ele, que tem assegurado o trono, à direita de Deus-Pai, se curva, abaixa-se, e se encontra na posição mais humilde, lavando os pés de seus discípulos. Ele demonstração clara de que a pessoa poderosa é aquela que serve e não a que manda. Que liderança é servidora.

Eu tenho andado por seu pais. É um privilégio, reconheço. Por outro lado, é preciso ter estômago e quantas vezes pensei em não ser “politicamente correto” quando vejo abuso de poder nas lideranças pastorais e o modo como fazem o povo os servirem. Eu fico muito incomodado com isso. Luto comigo mesmo para buscar ser um líder pastoral que está a serviço de Deus e seu povo. Tem horas que cansa, eu sei. Mas sei também que por acaso a atitude de servo não funciona, imagine a de arrogância e prepotência.

O reino de Deus tem suas dinâmicas e lógicas. Já estamos avisados disso, ninguém é pego se surpresa: “Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado” (Mt 23:12).

Jesus não condena e nem reprime se alguém quer se “maior dentre vós”. Apenas esclarece qual é o caminho para isso: “há de ser vosso servo”. O caminho está dado: humilhação!

Jorge Henrique Barro é Doutor em Teologia pelo Fuller Theological Seminary (EUA) – Professor e Responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Institucional (DDI) da Faculdade Teológica Sul Americana – Foi Presidente da Fraternidade Teológica Latino Americana (Continental) – Avaliador do MEC para Teologia