Prof. William (Billy) Lane
Páscoa é mais do que uma celebração no calendário cristão e na agenda do comércio moderno. É o acontecimento fundamental da fé cristã. Sem essa compreensão, não entendemos ainda o que é a fé cristã e o evangelho de Jesus. A Páscoa expressa a fé no Cristo ressurreto. E essa fé está firmada no encontro dos discípulos com Jesus após a ressurreição. Foi a partir das aparições de Jesus e o do encontro com os discípulos que a igreja primitiva formou e firmou sua fé em Jesus.
Muitas vezes os discípulos são retratados nos Evangelhos como quem não entende o que Jesus estava fazendo e ensinando. Diversas vezes, Jesus teve que repreendê-los (Mc 8.17) ou explicar-lhes particularmente algum ensinamento. Muitos acontecimentos eles só compreendem depois da ressurreição. João, por exemplo, diz, “A princípio seus discípulos não entenderam isto. Só depois que Jesus foi glorificado, eles se lembraram de que estas coisas estavam escritas a respeito dele e lhe foram feitas” (Jo 12.16, NVI).
A partir do encontro com o Cristo ressurreto pelo menos três coisas acontecem. Primeiro, a compreensão de toda a obra e ensino de Jesus. João conta que os discípulos não entenderam as palavras de Jesus sobre o templo em Jerusalém, mas que, “Depois que ressuscitou dos mortos, os seus discípulos lembraram-se do que ele tinha dito. Então creram na Escritura e na palavra que Jesus dissera” (Jo 2.22). No final do seu Evangelho, Lucas conta a respeito da conversa dos discípulos no caminho de Emaús e o encontro com Jesus. Para eles, Jesus era um profeta “poderoso em palavras e em obras” (Lc 24.19) e provavelmente continuariam pensando assim se não fosse aquele encontro com Jesus. Sem perceber que era com Jesus que conversavam, Jesus, finalmente, lhes diz “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” (24.25, 26). Mais tarde “os olhos deles foram abertos e o reconheceram” (24.31).
Foi o encontro com o Jesus ressurreto que deu aos discípulos o entendimento e a fé em Jesus. A fé dos discípulos e dos primeiros cristãos está fundamentada muito mais nos encontros com Jesus após a ressurreição do que propriamente nos seus ensinamentos e obras. Foi a partir desses encontros que os discípulos relembraram e propagaram os ensinamentos e obras de Jesus. Sem esses encontros, a fé cristã não passa de religiosidade e de repetição dos ensinos de um poderoso profeta.
A segunda consequência do encontro dos discípulos com Jesus após a ressurreição foi que eles passaram a entender a Escritura, isto é, todo o Antigo Testamento. João relata que quando Pedro e outro discípulo (provavelmente o próprio João) souberam que o túmulo de Jesus estava vazio e foram averiguar, “Eles ainda não haviam compreendido que, conforme a Escritura, era necessário que Jesus ressuscitasse dos mortos” (Jo 20.9). Mas foi a partir do encontro com Jesus que os discípulos tiveram uma compreensão da Escritura. O próprio Jesus disse aos discípulos, “Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras” (Lc 24.44, 45).
Assim, é a partir do encontro com o Jesus ressurreto que os discípulos entendem a missão e obra de Jesus e compreendem ou interpretam a Escritura. Se não é o encontro com Jesus, todo nosso envolvimento com a igreja e o evangelho não passa de religiosidade, ativismo religioso, modismo, pregações inspirativas e vaidade. Sem o encontro com Jesus, toda nossa fala, pregação e teologia não passa de discussão vazia. Ler a Bíblia, repetir os ensinamentos, decorar versículos, ir à igreja, fazer oração, ajudar as pessoas – tudo faz parte de nosso crescimento e compromissão cristão. Mas sem o Cristo ressurreto, isso é mera religiosidade.
A terceira consequência do encontro com Jesus é a compreensão da missão. O encontro com Jesus fez com que os discípulos não só recebessem o mandato de proclamar o evangelho como também entendessem a Escritura a partir desse mandato. Lucas resume bem esse entendimento: “Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês são testemunhas destas coisas. Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto” (24.46-49).
O encontro com Jesus nos leva à missão, pois a verdadeira fé no Cristo ressurreto é a fé na boa nova do Cristo que veio para “perdão de pecados a todas as nações” e de que somos feitos testemunhas.
Páscoa sem essa compreensão é puro passatempo.