Perspectivas bíblicas e teológicas do cuidado socioambiental:
Uma avaliação teológica preliminar[1]
por Tim Carriker*
Eis que os céus e os céus dos céus são do Senhor, o Deus de vocês; a ele pertencem a terra e tudo o que nela há. – Deuteronômio 10.14
É fácil se perder nas nuanças das diferenças entre as perspectivas religiosas que procuram discursar e agir em relação ao cuidado do meio ambiente. Aqui, vou me deter a falar sobre as perspectivas bíblicas e teológicas do universo cristão, reformado e tradicional (resumido posteriormente como “igrejas históricas”[2]). A seguinte análise se baseia na catalogação de publicações deste meio e não em um levantamento estatístico de participantes destas igrejas. É importante fazer este destaque pois porque um levantamento estatístico dará um perfil mais verdadeiro das igrejas históricas uma análise teológica da literatura. Entretanto, a análise teológica inicial ajuda a formular as perguntas que comporá um levantamento estatístico que fica para um momento posterior.
A análise da literatura será em quatro partes:
- Resumo pesquisas anteriores
- Identificar na literatura barreiras bíblicas e teológicas das igrejas históricas para o engajamento socioambiental
- Avaliar os principais argumentos bíblicos e teológicos da literatura; e a partir disto
- Propor estratégias preliminares dentro do campo bíblico-teológico para a advocacia do cuidado socioambiental.
- Resumo de Pesquisas Anteriores
Idea Big Data. Destacam-se uma pesquisa de opinião realizada no Brasil e algumas nos Estados Unidos, a fonte de boa parte do protestantismo brasileiro.[3] A pesquisa Idea Big Data é especialmente importante por ser recente (setembro de 2020) pela abrangência do levantamento entre os evangélicos (2.000 pessoas) e pela comparação destes dados como similares do mundo católico. O foco da pesquisa foi nas classes C, D, e E. Resultados:
- 50% votaram em Bolsonaro
- 85% consideram que destruir a natureza é um pecado contra Deus
- 67% consideram que o desmatamento é a principal ameaça contra a natureza enquanto 58% consideram que o lixo e a poluição é a principal ameaça
- 73% consideram o aquecimento global como uma realidade comprovada pela ciência
- 22% aprovam a política ambiental do governo; 51% consideram regular e 25% rejeitam. Especificamente:
- 66% são contra a redução da fiscalização do Ibama; 13% a favor
- 71% são contra acabar com as multas ambientais; 11% a favor
- 68% são contra acabar com o Fundo Amazônia; 9% a favor
- 65% são contra acabar com as áreas protegidas e terras indígenas; 9% a favor.
Nesta pesquisa, duas posturas teológicas se destacam: a destruição a natureza é pecado (85%!) e o aquecimento global é uma realidade comprovada pela ciência (73%). A primeira pode ser articulada através de Gn 1—3, especificamente na desobediência (Gn 3.1-6, 14-15) ao mandato criacional (Gn 1.26-28) que inclui o domínio “sobre todos os animais que rastejam pela terra”. A segunda pode ser articulada especificamente no mandato de “taxonomia” (o primeiro passo da ciência) dado à humanidade em Gn 2.19, na proscrição do raciocínio e reflexão explícitos em Rm 12.1-2 e na literatura sapiencial em geral com sua catalogação da natureza (1Rs 4.29-34).
[1] Este é um relatório de um estudo foi encomendado pela Iniciativa Interreligiosa pelas Florestas Tropicais (IRI). Para mais informações sobre a IRI veja a seguir: https://www.interfaithrainforest.org/s/pressrelease-port.pdf, https://www.iser.org.br/projeto/iri-interfaifh-rainforest-initiative/, https://www.interfaithrainforest.org/s/Interfaith_ConceptNote_Text_Portuguese.pdf, https://www.unep.org/pt-br/noticias-e-reportagens/reportagem/o-que-iniciativa-inter-religiosa-pelas-florestas-tropicais.
[2] Classificamos como “igrejas históricas” aquelas que definem a sua identidade com base em igrejas evangélicas anteriores ao século XX. Entre elas, as igrejas presbiterianas e reformadas falam do cuidado da criação principalmente por meio da linguagem das alianças. Luteranos dão mais ênfase a centralidade de Cristo e especialmente a teologia da cruz. Batistas focam as responsabilidades individuais. Os anglicanos, um grupo expressivo mundialmente, mas não tanto no Brasil, são os mais dispostos a dar seu aval para declarações e posturas católicas romanas e ortodoxas a assim participam mais das lideranças que representação dos maiores grupos cristãos no mundo. Todos reconhecem a importância de passagens como Colossenses 1.15-20 e geralmente as igrejas históricas vão focar os papeis de Deus Criador e Cristo Redentor enquanto os pentecostais já conseguem assimilar melhor o papel do Espírito Santo, por exemplo, Rm 8.18-25. Luteranos citam também bastante alguns salmos chaves e tem mais ressalvas para partir dos relatos da criação em Gênesis 1—2.
[3] Ao mesmo tempo, há importantes diferenças do protestantismo brasileiro, que se assemelha mais com os evangélicos conservadores estadunidenses.
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= *Timóteo Carriker foi missionário durante 39 anos da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América prestando serviços para a Igreja Presbiteriana do Brasil (1977-98) e a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (1999 até hoje). Como professor, pesquisador, produz material bíblico e missiológico. Atualmente ele é consultor missiológico da Sociedade Bíblica do Brasil, membro da diretoria da Rocha Brasil, Renovar Nosso Mundo, de algumas instituições teológicas, da série “Global Voices” de Regnum Books (na Inglaterra). É autor de 10 livros (em português, espanhol e inglês), centenas de artigos em revistas e periódicos, organizador de 11 volumes e coordenador da tradução de dois livros. Foi o presidente fundador da Associação de Professores de Missões no Brasil, consultor da Associação de Missões Transculturais Brasileiras e diversas outras organizações missionárias e presidente da diretoria da Missão Evangélica Caiuá. No seu lazer, Timóteo surfa, faz trilhas, e brinca de marceneiro, cutileiro e fabricante de peças de couro.