Redescobrindo a alegria da vida em comunidade

Reflexão
Filipenses 1.3-11

Nessa vida comunitária que nos completa, aprendemos que nosso ponto de vista é sempre um ponto que pode ser enriquecido pela vivência com outros.

Não é de hoje que se sabe que a vida comunitária apresenta desafios. “⁠Um dos pais da Igreja disse que ela é algo parecido com a arca de Noé: se não fosse pelo julgamento de Deus contra os que estão de fora, seria impossível aguentar o cheiro lá de dentro” (Warren Wiersbe). Porém, frases desse tipo trazem tanto uma eclesiologia equivocada (a igreja enquanto uma barca que navega nas águas de um mundo perdido) quanto apontam para uma realidade social que não existe mais: há muito tempo as igrejas deixaram de ser gaiolas, pois nos tornamos mais autônomos em matéria de religião.

Em nosso contexto, assistimos a um crescente número de pessoas que não querem mais saber da vida comunitária. Para alguns, é reflexo da cultura do individualismo, que busca a reafirmação de si mesmo e nega o outro, o diferente. Para outros, resultado de uma visão exclusivamente negativa sobre as comunidades de fé. As duas atitudes cortam caminhos para a vivência comunitária, que é uma dimensão importante para fé, conforme as Escrituras. As imagens bíblicas (corpo, edifício, povo e outras) nos convidam a ver que ninguém se basta sozinho. Nessa vida comunitária que nos completa, aprendemos que nosso ponto de vista é sempre um ponto que pode ser enriquecido pela vivência com outros.

Como redescobrir a alegria da vida em comunidade? Na carta aos Filipenses, conhecida como a carta da alegria, Paulo nos dá pistas ao pontuar algumas atitudes pessoais em relação àquela comunidade:

  1. Reavivar memórias (v. 3-5): Paulo traz a memória a “cooperação no evangelho” – uma história que começa em Atos 16.11-40. Viver em comunidade é viver parcerias na missão de Deus.
  2. Alimentar expectativas (v. 6): o ponto de vista é a ação de Deus, “aquele que começou boa obra em vós…”. A comunidade é um lugar onde Deus trabalha na vida de pessoas (2.12b-13).
  3. Fortalecer sentimentos (v. 7-8): Paulo tinha saudades “na terna misericórdia de Cristo Jesus”; reconhecia a presença da comunidade com ele em seus momentos de dificuldades.
  4. Colocar-se como intercessor (v. 9-11): “a oração desperta interesse naquele que ora, fazendo-o ouvir melhor a vontade de Deus” (Samuel Nyström, 1934) – uma intercessão marcada por profunda sensibilidade às necessidades; que não desvia o olhar das dificuldades.

Para concluirmos: comunidades não são mais gaiolas… mas ainda são necessárias! Então, como as atitudes de Paulo podem nos ajudar a repensar essa relação?

  1. Aprenda a celebrar as cooperações na missão de Deus.
  2. Aprenda todas as ferramentas necessárias para uma análise crítica da realidade, mas não deixe de olhar também a partir da ação de Deus.
  3. Vivencie sentimentos “na terna misericórdia de Cristo Jesus”, como possibilidade de abraçar o outro, o diferente de si mesmo.
  4. Busque clareza em relação às necessidades de sua comunidade, e se coloque a disposição de Deus, sem desviar ou fechar os olhos para os problemas.

Redescobrir a alegria da vida em comunidade, com certeza, nos ajudará a perseverar na caminhada cristã, no chamado pessoal e no propósito da Igreja de viver conforme a missão de Deus.

Prof. Cezar Flora
Pastor da Assembleia de Deus e Coordenador da Graduação Presencial na FTSA