No ministério pastoral os últimos meses do ano podem ser desgastantes, tensos e, às vezes, apreensivos. Isso porque o cansaço das atividades vai se intensificando.
Há uma percepção de que não vamos alcançar alguns dos objetivos, pessoais ou ministeriais, desejados para o ano, os compromissos sociais são mais frequentes, o planejamento para o ano seguinte precisa ser feito e, para muitos pastores é tempo de decisões, especialmente, quanto à sua atividade ministerial para o ano seguinte. Muitas assembleias e concílios eclesiásticos infelizmente deixam para essa época a definição da situação pastoral. Além disso, é comum mesmo ao pastor que está bem estabelecido em sua igreja receber convites de outras igrejas para o pastoreio no ano seguinte. Alguns convites são tentadores do ponto de vista do desenvolvimento pessoal, ministerial e familiar.
Ter de tomar decisões importantes em meio à fadiga pastoral, o aumento de responsabilidades e, às vezes, o desgaste com a comunidade ou liderança, pode tornar algo simples em um processo extremamente perturbador para alguns pastores. Mesmo que o pastor consiga lidar pessoalmente com essa situação, nem sempre a esposa e família têm a mesma facilidade. Por isso, esse tempo envolve muito mais uma decisão profissional. Há questões familiares, financeiras e relacionais em jogo.
Depois de muitos anos no ministério pastoral, tendo experiências assim repetidamente, foi minha esposa que me chamou a atenção para essa realidade. E foi relendo meu ‘diário’ (que é mais um ‘esporádico’) que nos demos conta do quanto isso se repetira quase todos os anos. Com isso, aprendi a lidar melhor com esse período do ano tomando algumas decisões simples. Isso é o que me ajudou:
1) Alivie a sua agenda. Ponha o pé no freio! Programe-se antecipadamente a não assumir compromissos demais além de tantos outros que você já tem. Essa época já é tempo de aumento nos compromissos pastorais como casamento, formatura, celebrações familiares, festas, reuniões locais e conciliares, planejamentos e etc. Tome cuidado para não acrescentar a isso outros compromissos que podem ser evitados. Em outras palavras, bloqueie (ou peça para a sua esposa!) a sua agenda para compromissos desnecessários, principalmente se envolverem viagens desgastantes.
2) Agende tempo de sossego. Além de cuidar para não assumir coisa demais, planeje tempo de sossego. Se você já faz isso habitualmente, redobre a atenção e não deixe que as atividades lhe roubem esse tempo. Tempo de sossego pode ser o momento de leitura pessoal da Bíblia, ler um livro, ouvir música, conversar tranquilamente com esposa, filhos, familiares ou amigos. Tempo de serenidade para as decisões.
3) Não invente nada novo. Por mais que esse seja também tempo de nos preparar e programar para o novo ano, se cuide para não começar inventar coisa nova. Cumpra o que já foi planejado e está sendo programado para as atividades do final do ano e prepare-se para o próximo ano, mas cuide para não assumir coisas que lhe sobrecarregarão ainda mais.
4) Cuide da família. Desfrute tempo com a família. Eles também estão sobrecarregados e ainda carregando a sua sobrecarga. Assista a um filme. Vá ao cinema, parque, teatro etc, ou outro lazer que a família goste. Se preocupe com os filhos e de como eles estão lidando com a situação.
4) Não deixe de fazer exercício físico. A falta de exercício físico agrava ainda mais o estresse. A rotina intensa do pastorado e das atividades profissionais provocam o desgaste físico, mental e emocional que se não cuidado pode causar não só doenças físicas como também síndromes de esgotamento, pânico etc.
5) Cuide de sua alimentação. Se o cansaço físico está atrapalhando sua concentração e sua serenidade para tomar decisões acertadamente, pode ser também sinal de falta de alimentação adequada. Conheci pastor que nessa época do ano habitualmente toma complementos vitamínicos para chegar até o fim do ano. Não exagere nas festas. O pastor é convidado para muitas festas, almoço, jantar e churrasco nessa época do ano. O abuso pode ter consequências drásticas.
6) Gaste tempo genuíno com Deus. Leia a Bíblia e faça oração não para ministrar aos outros, preparar sermão e palestra, mas leia para a sua edificação, fortalecimento e direção espiritual. É tão fácil ao pastor confundir seus problemas com o dos outros ou da igreja, por isso, muitas vezes o pastor busca a Deus carregando as cargas dos outros. Mesmo que isso seja reflexo de uma visão de ministério sacrificial, não significa que o pastor não precise também voltar-se a Deus de forma autêntica e genuína.
7) Ore com os Salmos. Pratique o lamento, a súplica, a oração de confiança, a ação de graças, o hino de louvor. Ore com os salmos. Calvino disse que Salmos é a verdadeira anatomia da alma, pois não há emoção humana que não esteja de algum modo expressa nos Salmos. Faça das orações do salmista a sua oração. Se não tiver o hábito de registrar um diário, pelo menos nesse tempo, registre suas orações. Escreva orações.
Certamente há diversas outras recomendações. Essas são algumas que podem fazer diferença. Obviamente não eliminarão todos os sintomas do esgotamento e da ansiedade das decisões, mas poderão ajudar muito.
William (Billy) Lane é pastor presbiteriano, doutor em Antigo Testamento e diretor acadêmico da Faculdade Teológica Sul-Americana. Artigo também publicado na revista Ultimato.